Em terra de sabiá, minhoca dorme de toca.

Orgulho em ser braSileiro

Orgulho em ser braSileiro

segunda-feira, 29 de março de 2010

José Mojica o "Zé do Caixão".




Como parte das comemorações dos 456 anos da capital paulista, o CINESESC dá prosseguimento aos encontros comandados pelo jornalista Christian Petermann, que recebe cineastas que já dirigiram filmes tendo São Paulo como protagonista.

Suzana Amaral, Hector Babenco, Tata Amaral, Ugo Giorgetti, Carlos Reichenbach entre tantos outros falaram sobre suas obras, agora é a vez dele: Zé do caixão, ou será José Mojica?
Zé do caixão é um elemento popular no Brasil. O criador do personagem, José Mojica Marins, 74, nascido na Vila Mariana em São Paulo é certamente o melhor cinesta de terror no Brasil. "Porque até agora sou o único", disse o diretor, roteirista, apresentador de TV, entre tantas outras coisas.







JAMELO: São Paulo é uma cidade para fazer filmes de terror?

MOJICA: "Se voltarmos para a época de Dante, quando ele escreveu "A Divina Comédia" e ele soubesse da existência desta cidade, sem dúvida ele deixaria um roteiro fantástico. Aqui há Ades, o baixo inferno; o inferno propeiamente dito; Purgatório, que é um lugar gostoso; Neutro, que é passar entre o purgatório para chegar ao céu; e, enfim, o Paraíso. Sou de um tempo em que meia-noite era sem violência, fazia uma caravana de meninas para levar ao cemitério. Sou medroso, tenho filhos e 11 netos. Rezo para que todos voltem vivos quando saem para as ruas.
O Kassab cortou o cigarro, mas por quê não cortou a droga?
Vejo no Norte e Nordeste do Brasil os pais vendendo os filhos por R$ 200,00 para os gringos, que prometem levá-los para a França, Inglaterra, mas na verdade é para tirar os órgãos! E eu vou fazer um filme sobre isso!".

MULHER - "Sou machista, mas valorizo a Mulher. Ela é essencial. A Mulher passa por coisas terríveis. Por quê das sofrimento a ela? Morrerei pondo a mulher na frente do Homem e temos que louvá-las. A luta dela é diária, já nasce guerreando".

MIGRAÇÃO - "O grande caminho é São Paulo. Todo mundo está vindo para cá e eu acho isso triste, com tantas cidades por ai com fartura, mas sem emprego. O Paulistano é muito vaidoso, não pode ver um espelho que se olha. Ai o coitadinho vem aqui para fazer o que eles mandam. Por isso que nascer em São Paulo é ser agraciado".

DITADURA - "Com o Zé do Caixão sugiu o terror, que é meu negócio. Ai veio a ditadura e me prendeu várias vezes. Algumas pessoas só iam e não voltavam.
Para driblar isso eu descobria onde ia acontecer o baile dos generais. Não tinha televisão, só cinema eu aparecia por lá, via uma menina, achava-a "ideal" porque era filha de general e convidava-a para fazer um papel no meu próximo filme. Quando me prendiam elas chegavam em casa, eles ficavam sabendo que era eu e logo me tiravam da cadeia. O artista tem que ficar em cima do muro".

ACERVO - "Muitas da minhas obras foram destruidas pelo meu ex-genro. Esse homem teve a ousadia de com uma magueira jogar água nas minhas fitas, reportagens preciosas dos anos 40... Ele jogou água em tudo! Ele afirmava que aquilo era tudo porcaria, coisa velha, desatualizada. Quero, agora, que ele bem me explique isso direitinho".

CENSURA - "Na ditadura eles diziam que meus filmes tinham camuflagem política. Até hoje eu nai vi nada disso.
Revoltado com a ditadura fui até Brasília com outros diretores e artistas, como o Júlio Bressane e o Ivan Cardoso. Um Homem e uma Mulher me disseram que eu devia ser morto. Eu desci o pau na censura em Brasília mesmo! Chegaram a me perguntar se eu atrevessava parede! Falei na cara deles que eles não entendiam de nada. Tudo o que eles não compreendiam era o que eles censuravam".



CECÍLIA MADUREIRA: "Ruim com a Embrafilme ou pior sem a Embrafilme?"
MOJICA: " Pior. Um dia eu briguei e fiz o que o Glauber Rocha havia dito para que fizesse. Não é que eles produziram um filme em minha homenagem nos anos 70?
A Embrafilme iria patrocinar "O Devorador de Olhos". De repente, tocaram fogo no lugar e a minha reportagem foi queimada."

CECÍLIA MADUREIRA: " E como você consegue patrocínio para fazer seus filmes atualmente?"
MOJICA: "Eu sigo o mesmo caminho. Vou até o padeiro, ou jornaleiro, digo que o que eles teem é bom e peço para colaborarem comigo para o meu próximo filme. Em troca coloco o nome deles dos créditos.
A Embrafilme seria boa hoje. "Encarnação do Demônio" foi o primeiro filme que ninguem meteu o pau e eu ganhei sete prêmios no Festival de Paulínia."

JAMELO: "Como foi a sua infância e de onde surgia sua relação com o cinema?"
MOJICA: " Minha infância foi muito boa. Não existia violência, naquela época as pessoas colocavam suas cadeiras em frente de casa e ali na calçada ficavam conversando até meia noite ou mais, sem perigo nenhum.
Minha relação com o cinema nasceu em casa mesmo, meu avô mantinha num porão um cinema, então já nessa eu era popular entre as meninas, pois eu é quem distribuia e vendia os ingressos dos filmes em cartaz, depois passei a convidá-las para perticipar dos meus filmes e lembro também que fazia caravanas ao cemitério com todas elas, era uma "delícia"."

CHRISTIAN PETERMANN: Mojica como nosso tempo está chegando ao fim, você gostaria de aproveitar e fazer uma de suas famosas pragas para a platéia?
JAMELO: (interrompendo) Se der sorte pode mandar!
MOJICA: (risos...) Olha, minhas pragas são coisa séria, são pior que praga de mãe, então eu vou mandar uma levinha:





"Se você não prestigiar a cultura, principalmente o cinema nacional, ou não dar a mão ao próximo...

Que seus cabelos se convertam em ácido. Que caiam sobre os seus olhos, cegando-o, escorrendo até os seus órgão sexuais e você nunca mais saberá se é Homem, ou se é Mulher".



MOJICA OU ZÉ DO CAIXÃO: "Aconselho a todos a fazer o dever de casa bonitinho!

Os encontros acontecem sempre às 19:30, segundas, terças e quartas e são gratuitos. Os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência. O CINESESC fica na Rua: Augusta, 2.075, metrô Consolação - Cerqueira César - 3082-0213.


*Creditos: Cecília Madureira, jornalista e fotógrafa talentosa e Christian Petermann.